Partimos a 18 de Agosto de 2012 rumo a
terras Africanas, com a única certeza de que as Irmãs Franciscanas Missionarias
de Maria (FMM) nos esperariam em Maputo. Desconhecíamos o local para onde iríamos
em missão… Assim, não sabíamos o que nos esperava e por isso procurámos estar
preparadas para todos os cenários possíveis. Levámos na bagagem material
escolar, vestuário para crianças e mulheres, jogos, brinquedos e manuais que
considerávamos importantes para trabalhar em diversas áreas. No coração levámos
esperança, alegria, motivação e curiosidade.
Na chegada a Maputo ficámos sem parte da
bagagem mas isso não nos abalou; estávamos confiantes que a mesma iria chegar nas
devidas condições. O que acabou por acontecer dias depois…
Na viagem do aeroporto até a casa (FMM)
fomos tendo o primeiro contacto com as pessoas e a cidade. As Irmãs souberam
acolher-nos muito bem. Levaram-nos a conhecer o nosso novo lar e antes de irmos
descansar até ao dia seguinte acompanharam-nos também numa refeição
reconfortante. A nossa casa era modesta, muito tranquila, acolhedora e nunca
nos faltou nada. Em Maputo soubemos que iríamos para Manga (Beira) mas… só daí
a uma semana...
Aquando a estadia em Maputo deparámo-nos
com novas realidades, que não nos eram familiares, do ponto de vista urbano,
demográfico e social. Encontrámos uma cidade cheia de edifícios, ruas e
avenidas, bem como, abundante em diferentes raças, culturas e religiões. Jamais
esqueceremos, o primeiro impacto que estas imagens tiveram em nós.
Fomos também conhecer a comunidade Namaacha
e o trabalho lá desenvolvido. Ai Namaacha… ficaste em nosso coração… as
crianças, as adolescentes e as Irmãs com quem partilhámos vida e afectos… que
saudades… Uma realidade bem diferente da cidade de Maputo, notando-se um
contraste evidente quer a nível da organização e edificação urbana, quer a
nível social e demográfico.
Enquanto estivemos com as Irmãs
procurámos sempre integrarmo-nos nas suas actividades, nomeadamente nos momentos
de oração na casa, na eucaristia e noutras celebrações na comunidade, nas
refeições e nos momentos de lazer. Nas Irmãs sentimos a alegria que é dar a
vida pelos irmãos sem esperar nada em troca. Essa alegria era também manifestada
e transparecida nos seus cânticos e nas suas danças. Sentimo-nos abençoadas por
Deus pela experiência que estávamos a viver em Maputo. Os grandes contrastes do
luxo e da pobreza, dos espaços urbanos e dos rurais, não eram nada perante a
nossa vivência em comunidade.
Após um dia, cansativo mas alegre, de
viagem em Machibombo chegámos à Beira, onde fomos também bem acolhidas pelas
Irmãs FMM. Estávamos ansiosas por iniciar o nosso trabalho. Assim, no dia
seguinte e após uma noite bem descansada fomos conhecer as obras das FMM
naquela comunidade. Existe um Internato que acolhe e acompanha jovens e
adolescentes do sexo feminino, um Centro de Saúde que presta cuidados nas mais
diversas valências, uma Maternidade e um Centro de Nutrição.
O nosso trabalho visou essencialmente
prestar apoio no Centro de Nutrição. Quando percebemos o seu modo de
funcionamento, criámos um plano de intervenção com objectivo de trabalhar
diversas áreas, nomeadamente, na prevenção do HIV/Sida, na formação das mães em
Puericultura, nos cuidados de higiene e de saúde a terem consigo próprias, com
as suas crianças e nos seus lares. Tentámos também dar continuidade ao que já
se fazia, como a hora do conto, onde umas mães ensinavam as outras na leitura e
também na escrita. Ao tentarmos colocar em prática o nosso plano de intervenção,
constatámos que era de todo impossível criar mudanças em tão pouco tempo…
Deparámo-nos com uma realidade para a qual já tínhamos reflectido em grupo
antes de partirmos em missão. De facto, nós devemos ir ao ritmo do povo que nos
acolhe. Não seria em três semanas que poderíamos dar ferramentas às mamãs para
que depois elas conseguissem por si só dar continuidade aquando a nossa
ausência. Também não haveria missionários previstos para aquela zona nos
próximos tempos que o pudessem fazer. Assim, alterámos tudo e resolvemos ESTAR
com as mamãs e as crianças, através de encontros em grupo, momentos de escrita
e de leitura, da hora do desenho, do canto e dos jogos. Procurámos conhecer a
vida de cada um, auxiliámos nos cuidados a ter na saúde e na alimentação das crianças,
fomos a casa dessas famílias para também perceber como vivem e interagem com os
restantes membros da família e acompanhámos algumas crianças ao Centro de
Saúde.
Enquanto visitámos as casas das
“nossas” famílias fomos tendo contacto com as várias realidades dos bairros por
onde passávamos. Bairros que fervilham de crianças; milhares de crianças. As
pessoas que encontrávamos eram de uma forma geral simpáticas e afáveis; os
jovens e as crianças sorridentes pediam-nos ansiosamente para que tirássemos fotografias.
Os bairros eram habitados por uma
população muito pobre, que cresce sem qualquer plano de ordenamento, de forma
espontânea e sem infra-estruturas. Ruas estreitas, caminhos e vielas, com águas
paradas, misturadas com lixo, onde predominam casas de caniço, pois são
habitações, cujas paredes e tetos são constituídas com madeira e zinco. Muitas
destas habitações, não têm acesso a água canalizada, no seu interior ou
exterior. Abastecem-se essencialmente em poços ou furos, muitas das vezes sem
condições mínimas de tratamento, o que agrava a situação sanitária. As
condições de saneamento são muito precárias, não existe um sistema de
saneamento, não possuem qualquer tipo de casa de banho, nem sequer uma latrina
fora de casa (uma das características do meio rural).
E… um mês passou depressa! Tínhamos que
voltar e a saudade dos “nossos” meninos, das “nossas” mamãs e das Irmãs FMM
aumentava (e aumenta) de dia para dia. Chegava a hora da despedida e muitas
lágrimas correram.
Foi uma experiência que jamais esqueceremos.
Sentimos que as pessoas que passaram por nós marcaram muito mais a nossa vida
do que nós as marcámos. Sem dúvida que recebemos muito mais do que demos e, com
toda a convicção sentimos que viemos cheios do Espírito e do Amor de Deus,
manifestando-se também, no forte desejo de partilhar esse Amor com quem passa
por nós. Conforme, cantamos muitas vezes: “Sou feliz, porque a vida é
partilhar; mais do que receber a alegria está no dar…”
Em conversa com uma das Irmãs
concluímos que fomos apenas “espreitar”.
A Deus queremos dizer “KANIMAMBO” pelo
dom da vida.
(Julieta e Sofia – Leigas Voluntárias
Missionárias - FMM)
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