Missão em
Angola/b´Banza Congo - Ano 2012- Agosto
Missionária: Lúcia Guerreiro (1 mês de missão)
A oração e a ação de cada um
transforma e dá força à pessoa que atua, na presença, no gesto, na vivência. No
passo que se dá de amar o outro, no ser que cativa e eternamente se sentirá
cativado, eis-me aqui, como luz pequenina no mundo. Estas palavras são minhas,
sentidas antes de partir para esta experiência como leiga no voluntariado
missionário. Agora que a vivência da missão está a chegar ao fim, sinto que
Deus está em mim e, é algo maravilhoso. Pôs-me à prova, testei alguns limites
da minha existência e consegui perceber até onde me consigo dar e o que na
realidade tenho para dar. Estou pronta para o que me espera, ou talvez não
esteja, mas acredito que Deus não me faltará.
Por terra angolana escrevo esta
minha partilha da experiência que vivi, o caminho está a chegar ao fim, um fim
com início na certeza, mesmo sem saber como e de que maneira, pois o desejo de
realizar é forte. Somos um pequeno grupo com grande força, acredito que juntos,
no futuro bons projetos vão ser feitos, para todas as nossas vivências de
missão através das Franciscanas Missionárias de Maria.
Fui a primeira a partir este ano
de 2012, serei a primeira a chegar e os passos que arrisquei dar estão contados
para o regresso a casa, à vida quotidiana, esta que não será a mesma, pelo
menos na perspetiva do olhar o outro, igual a nós com as suas imensas
diferenças, escutar com o coração, ver o mundo com os olhos de Deus e acreditar
que é possível mais, melhor, mesmo com todas as dificuldades, fragilidades,
modo de ser, nosso e do outro que se cruza no nosso caminho de missão como
leigos enviados pela Igreja ao serviço do outro, a evangelizar, seja aqui ou em
qualquer outro lugar. Assim, só posso sentir o meu coração sorrir, com a
alegria inexplicável de ter cumprido um pouco mais do Evangelho em que
acredito, “Ide!...” (Lc 10, 3).
Ao longo dos meus 33 dias em
terras angolanas, pude visitar e viver lugares, também situações, cultura e
pessoas. Estive três semanas na cidade de Mbanza Congo, o centro da “minha
missão”, com os alunos da 5ª e 6ª classe da Escola Primária Santo António, uma
aventura, por exemplo, iniciaram 82 alunos o seminário de formação bíblica e
terminaram 46 alunos, para além de tudo o que me ensinaram os próprios alunos,
foi para mim um verdadeiro curso, como praticar pedagogia, ensino, disciplina e
em tudo colocar carinho e amizade. Recordo o telefonema de uma aluna a
perguntar-me se tinha chegado bem, se a viagem tinha corrido bem, fiquei
completamente embebecida com a ternura demonstrada. São sinais de Deus que
acalma pensamentos e sentimentos menos positivos, dando-nos aconchego. Também
pude conhecer e viver outro projeto missionário, através dos Franciscanos, um
centro de acolhimento a crianças e jovens até aos 18 anos de idade, com
histórias de vida incríveis e inacreditáveis. Foi uma bênção nesta minha
experiência missionária, o carinho, amizade, companheirismo que me ofereceram
aquelas crianças e jovens é algo difícil de esquecer e não marcar a pessoa que
sou. Senti vontade de mudar o mundo, sabendo que não consigo, senti vontade de
fazer de novo, sabendo que não é possível, senti vontade de ficar e dar-me,
sabendo cada vez mais que não tenho tamanha capacidade… Pude com tudo isto sentir e viver os frutos do
Espírito Santo, cada pessoa é presença do Espírito Santo nela e a caridade, o
amor, a ternura, o afeto, a alegria, a partilha, a fraternidade, a bondade, a
paciência são obras do Espirito Santo, por tudo sinto a beleza de viver a vida
mesmo nas situações menos aprazíveis da própria vivência da vida.
No dia que completei três semanas
em Mbanza Congo regressei a Luanda, para no dia seguinte partir para conhecer
um local de peregrinação “Mamã Muxima”, um lugar lindo, que dá paz, serenidade,
onde a oração para mim faz muito sentido e a procura do que Deus quer para mim
é pensado e repensado na busca incessante de perceber se o que eu quero é ou
não o mesmo que Deus quer e onde me leva toda esta surdez que possuo, grita-me
Senhor estou surda! Quero apenas sentir que realizo o projeto do dom da vida,
que para mim é apenas ser feliz.
Que
o agradecimento seja considerado por todas as pessoas que fazem parte da minha
vida e desta minha experiência, em cada palavra que escrevi, em cada gesto que
fiz, em toda a minha presença, porque simplesmente não tenho como agradecer por
tudo, apenas posso dizer obrigado.
Missão em Angola - Cangumbe - Outubro 2012
Missionárias: Els (missão de 6 meses) e Ana Poupino (missão de 1 mês)
Testemunho de Els Claes:
O ano passado parti para Angola como voluntária para ficar 6
meses em missão com as Irmãs Franciscanas de Maria. Um sonho, que tinha desde os meus 6 anos. Realizou-se!
Encontrei África como tinha imaginado, desde que vi os
diapositivos do Congo dos anos 50-60, que as Irmãs Missionárias da minha escola
primária nos mostraram, quando estavam de visita na Bélgica
A Ana (outra missionária) e eu chegámos em Luanda e logo a vida Africana nos
fascinou: as ruas cheias de carros, candungeiros, homens de motocicletas a
manobrarem entre as filas, mulheres em panos coloridos carregadas das mais
diversas mercadorias empilhadas por cima das cabeças e com bebés às
costas, senhoras vendedoras à beira das estradas e muitas, mesmo muitas
crianças.
Uma cidade cheia de vida, onde o contraste entre ricos e pobres é enorme.
Após
tratarmos dos nossos documentos, e após nos despedirmos de todas as Irmãs
queridas na casa-mãe, continuámos a nossa viagem até ao nosso destino,
Cangumbe, no meio dos planaltos da província de Moxico, a 80Km de Lwena, a
cidade mais perto.
Fui a Lwena várias vezes, para levar a Ana ao aeroporto, fazer
compras, telefonar e mandar e-mails para a família, bem como para dar um curso
de Reflexologia dos Pés.
Cangumbe, uma terra parada no passado, onde os vestígios da guerra ainda estão
muito presente.
Em Cangumbe, colocaram-nos logo em contacto com o
Administrador e a Directora do Centro de Saúde. O nosso trabalho começou!
A Ana deu explicações aos adultos da paróquia e deu paletras sobre nutrição,
para melhorar a alimentação da população de lá, que em geral só come «
funge» (papa de mandioca) e explicou a importância das vitaminas e outros
elementos tão necessários para ficar saudável. Como nem todas as pessoas percebiam
o Português, um dos enfermeiros fez a tradução em Tchokwé, o dialecto local.
Muitas pessoas fugiram da guerra e viveram muitos anos na floresta. Agora, 10
anos após a guerra acabar, começam a voltar para a cidade.
Em Cangumbe e à sua volta há muitos «bairros», onde as casas são feitas
com paus e lama à maneira antiga. Cada aldeia tem um «Soba» (chefe), que em
ocasiões oficiais veste um uniforme bege.
Durante
a semana, quase todos os adultos estão a 12 Km de Cangumbe, nas suas hortas ao
pé do rio, onde permanecem a semana toda (pois era tempo de chuva). Levam
consigo os bebés que ainda mamam e os filhos mais grandes para os ajudar.
Poucos
adultos ficam na aldeia, e vi muitas crianças de 6-8 anos a cuidar dos seus
irmãos mais novos, a semana inteira. Eles tinham que se governar este tempo
todo com o funge que a mãe deixava. Muitos deles tinham fome. Por isso, retiravam
constantemente com pedras e paus, as mangas verdes das árvores enormes que
estavam carregadas de fruta.
Estavam
sempre muito felizes quando os pais voltaram ao fim da semana para celebrar a
missa de domingo. Duas vezes por semana passava o comboio, ambas as vezes sobrecarregada
de gente e mercadorias.
Nessas
ocasiões, toda a população de Cangumbe estava presente na estação, pois era o
maior acontecimento da semana.
Crianças, jovens e mães vendiam mel selvagem, hortaliças e frutos dos bosques.
Um vai-vem vivo e alegre, um ambiente de festa: pessoas a abraçar membros de família que não viam há
muito tempo, pessoas que iam ou voltavam do Hospital em Lwena, policias e
soldados da tropa que iam substituir outros que voltavam aos seus lugares de
origem, etc...E depois, toda esta gente ia voltar ao seu dia a dia, enquanto o
comboio se afastava no horizonte.
Entretanto, o meu trabalho incidiu no Centro de Saúde, onde deu massagens e
Reflexologia dos pés aos utentes, que às vezes tinham caminhado toda a noite
através da floresta, para chegar de madrugada. A maioria vinha acompanhado de
toda a família, para lhes fazer comida e lavar a roupa.
Às vezes os quartos eram cheios de doentes com malária ou
outros doenças. Surgiu uma situação de surto de tosse convulsa, e a farmácia
nem sempre dispunhados medicamentos adequados, mas os enfermeiros fizeram
sempre o que podiam. Se era um caso grave, uma ambulância levava-os até Lwena. Também
realizei visitas ao domicílio, nas suas « jangas».
Outra das actividades foram as lições de costura, onde os rapazes se
destacaram.
Quando souberam que íamos fazer uma «pasta/mala», a sala de trabalho tornava-se
rapidamente pequena demais, tantos interessados havia.
Muitos
deles traziam os seus irmãos mais pequenos, estes metiam-se em baixo das mesas
com papel e lápis de cor e faziam desenhos maravilhosos, que orgulhosamente
levavam para casa.
Nas lições de Inglês, tínhamos o Administrador, o seu
secretário, o chefe da tropa, um polícia, alguns catequistas e as Irmãs como
alunos.
As massagens, foi outras das atividades realizadas,
contudo as mães, devido ao trabalho nas hortas, não conseguiram aprender, com
muita pena sua. Só os enfermeiros, um policia e uma leiga aprenderam esta
técnica e como foi um grupo muito ligado, dei continuidade ao trabalho.
Tive a sorte que o Bispo de Lwena nós visitou, que organizou um curso de
Reflexologia dos Pés, em Lwena, em 4 Centros que promoviam a Medicina
Natural. Este grupo aprendeu com facilidade esta técnica eficaz na manutenção
da saúde e praticámos logo nos 4 centros.
De volta
em Luanda, muitas Irmãs também aprenderam a Reflexologia com muito entusiasmo.
Durante
estes 6 meses, estive acompanhada com Irmãs e a sua Vida Religiosa, outra
experiência nova para mim, e com respeito e agradecimento lembro-me o
acolhimento caloroso no seu seio. Claro que, também existiam alguns momentos de
tensão, pois somos todos seres humanos, mas também somos todos seres de boa
vontade e acreditamos em Deus, Nosso Senhor, e como tal as coisas resolviam-se.
Aprendi várias coisas sobre mim próprio e evolui!
Vi coisas muito bonitas que me exaltaram e colocaram lágrimas nos olhos, como na
igreja e eventos sacras, cheios de pessoas de boa vontade; as cantigas,
mesmo quando nem todos cantavam no mesmo octavo, soavam divinas e sobiam
directamente para o céu!
As crianças, com olhos brilhantes e sorrisos largos ; as pessoas indígenas
que me adoptaram como um dos seus; o ritmo, a dança, a alegria; a
natureza em seu esplendor, tudo isto presentes de Deus.
Espero de todo o meu coração que o mundo se torne um lugar
equilibrado onde todos podem viver em paz as suas vidas e criar as suas famílias
em alegria.
Obrigada a todas!
Estamos juntos, sim, Senhor.
Testemunho de Ana Poupino:
São Francisco de Assis,
transmite-nos que “Ninguém é suficiente perfeito, que não possa aprender com o
outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo
ao seu irmão.”
A missão em Angola
reforçou ainda mais esta mensagem, proporcionando-me aprendizagens de grande
valor a nível pessoal e espiritual.
A casa mãe das FMM -
Franciscanas Missionárias de Maria em Luanda é de facto um centro maternal, que
proporciona afetividade, segurança, que nos transmite de modo tranquilo e
natural espaços de comunicação com o Pai, respeito pelo outro (em especial
pelos mais velhos), palavras de conforto e de valorização, uma vivência
comunitária de partilha e de diálogo, disponibilidade imediata para o outro,
tudo o que é necessário numa família. As bases para um bom crescimento, os
alicerces que nos permitem depois caminhar com segurança e amor.
A organização
da casa, onde cada qual participa de acordo com as suas capacidades, permite
alimentar um sentimento de pertença que culmina num sorriso constante em cada
rosto.
Nesta casa, vivem mulheres guerreiras da paz e luz, com histórias de vida
maravilhosas!
Transmitem-nos com
imensa força que o tempo não tem idade, pois estamos sempre a tempo de dar,
receber e partilhar. Foi extraordinário ver e sentir a força do Ser Humano,
onde a idade cronológica marca um caminho quase de um século e a idade do
coração é marcada pela juventude motivada e alegre, rumo a novas aprendizagens.
Em Luanda partilhámos
(Eu e a Els) conhecimentos de informática e reflexologia dos pés, para com as
irmãs, conhecimentos esses que podem assim ser reproduzidos. Outras partilhas
sucederam com alguns catequistas ao nível da aprendizagem da língua inglesa e
do apoio ao estudo em matemática.
Em Cangumbe, local da nossa missão, muito há para aprender, explorar,
sentir, viver! Aqui, sentimos o coração de África que nos chama a estar
presentes!
Cangumbe, o seu acesso é
dificultado pelo maus estado da via existente, a 90 km de Luena,
aproximadamente 4h de condução, mas em viatura de todo o terrreno. Presentemente,
já está em funcionamento o comboio, que uma vez por semana faz o trajeto de
Cangumbe para a cidade (Luena).
A comunidade encontra-se assim, muito isolada, estando privada de muitos
dos bens essenciais para a sua subsistência, tais como àgua (o rio mais próximo
fica a 12 km), luz, alimentação pouco diversificada (à base de mandioca).
Condições que dificultam a ação dos serviços que existem, tais como Escola e Centro
de Saúde, pois apesar de todos os esforços das equipas de trabalho há necessidades
básicas a serem colmatadas para ser possível efetuar um bom trabalho.
O chowé é a língua de Cangumbe, fomos presenteadas pelos seus residentes,
em especial, os catequistas na integração da sua língua, fazendo-nos sentir
bem-vindas a esta casa.
Respira-se nesta
comunidade a força do ser Humano, de viver as dificuldades diárias e constantes,
sempre com um sorriso de esperança. Aqui as nossas atividades incidiram no
apoio ao estudo e iniciação à costura às crianças e jovens, sendo
extraordinário o seu empenhamento. Aulas de inglês e alfabetização de adultos,
marcadas pela forte presença e motivação.
No Centro de Saúde
iniciaram-se algumas sessões de esclarecimento sobre a importância da
alimentação na prevenção de doenças e apoio aos utentes através de massagens
terapêuticas.
A presença de Deus é bem patente nesta terra, que perante as adversidades
da vida, comunidade que reside à aproximadamente 10 anos naquele local, que
regressou das matas após o fim da guerra e traz consigo a força da fé que passa
de geração em geração. Aqui os catequistas mantêm diariamente a realização da
celebração da palavra, realizada por estes, pois o pároco apenas tem possibilidade
de quinzenalmente realizar a celebração da Eucaristia nesta povoação, dada a
distância e os acessos à mesma. As crianças, jovens e toda a comunidade, têm
agora a oportunidade de conhecer melhor a Deus, com a presença da congregação
das FMM (desde maio de 2012), destacando-se pela sua simplicidade e disponibilidade
de ajuda ao outro.
Em Cangumbe é necessária a força do
Amor, para fortalecer o caminho traçado e dar inicio a novas estradas. A força
está no Ser Humano, pois todos temos dons que podemos colocar à disponibilidade
do outro. Este caminho faz-se de mãos dadas com Deus, que nos acompanha e guia.
Ana Poupino (9 de Outubro a 10 de
Novembro 2012)
MISSÃO EM ANGOLA - Ano 2013 - Outubro
As jovens Carmen e Marlene, ambas enfermeiras, estiveram um mês em Angola
Trouxeram o coração cheio de alegria e muito amor!
A missão foi bem sucedida e viveram experiências magnifica!
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