A oração e a ação de cada um
transforma e dá força à pessoa que atua, na presença, no gesto, na vivência. No
passo que se dá de amar o outro, no ser que cativa e eternamente se sentirá
cativado, eis-me aqui, como luz pequenina no mundo. Estas palavras são minhas,
sentidas antes de partir para esta experiência como leiga no voluntariado
missionário. Agora que a vivência da missão está a chegar ao fim, sinto que
Deus está em mim e, é algo maravilhoso. Pôs-me à prova, testei alguns limites
da minha existência e consegui perceber até onde me consigo dar e o que na
realidade tenho para dar. Estou pronta para o que me espera, ou talvez não
esteja, mas acredito que Deus não me faltará.
Por terra angolana escrevo esta
minha partilha da experiência que vivi, o caminho está a chegar ao fim, um fim
com início na certeza, mesmo sem saber como e de que maneira, pois o desejo de
realizar é forte. Somos um pequeno grupo com grande força, acredito que juntos,
no futuro bons projetos vão ser feitos, para todas as nossas vivências de
missão através das Franciscanas Missionárias de Maria.
Fui a primeira a partir este ano
de 2012, serei a primeira a chegar e os passos que arrisquei dar estão contados
para o regresso a casa, à vida quotidiana, esta que não será a mesma, pelo
menos na perspetiva do olhar o outro, igual a nós com as suas imensas
diferenças, escutar com o coração, ver o mundo com os olhos de Deus e acreditar
que é possível mais, melhor, mesmo com todas as dificuldades, fragilidades,
modo de ser, nosso e do outro que se cruza no nosso caminho de missão como
leigos enviados pela Igreja ao serviço do outro, a evangelizar, seja aqui ou em
qualquer outro lugar. Assim, só posso sentir o meu coração sorrir, com a
alegria inexplicável de ter cumprido um pouco mais do Evangelho em que
acredito, “Ide!...” (Lc 10, 3).
Ao longo dos meus 33 dias em
terras angolanas, pude visitar e viver lugares, também situações, cultura e
pessoas. Estive três semanas na cidade de Mbanza Congo, o centro da “minha
missão”, com os alunos da 5ª e 6ª classe da Escola Primária Santo António, uma
aventura, por exemplo, iniciaram 82 alunos o seminário de formação bíblica e
terminaram 46 alunos, para além de tudo o que me ensinaram os próprios alunos,
foi para mim um verdadeiro curso, como praticar pedagogia, ensino, disciplina e
em tudo colocar carinho e amizade. Recordo o telefonema de uma aluna a
perguntar-me se tinha chegado bem, se a viagem tinha corrido bem, fiquei
completamente embebecida com a ternura demonstrada. São sinais de Deus que
acalma pensamentos e sentimentos menos positivos, dando-nos aconchego. Também
pude conhecer e viver outro projeto missionário, através dos Franciscanos, um
centro de acolhimento a crianças e jovens até aos 18 anos de idade, com
histórias de vida incríveis e inacreditáveis. Foi uma bênção nesta minha
experiência missionária, o carinho, amizade, companheirismo que me ofereceram
aquelas crianças e jovens é algo difícil de esquecer e não marcar a pessoa que
sou. Senti vontade de mudar o mundo, sabendo que não consigo, senti vontade de
fazer de novo, sabendo que não é possível, senti vontade de ficar e dar-me,
sabendo cada vez mais que não tenho tamanha capacidade… Pude com tudo isto sentir e viver os frutos do
Espírito Santo, cada pessoa é presença do Espírito Santo nela e a caridade, o
amor, a ternura, o afeto, a alegria, a partilha, a fraternidade, a bondade, a
paciência são obras do Espirito Santo, por tudo sinto a beleza de viver a vida
mesmo nas situações menos aprazíveis da própria vivência da vida.
No dia que completei três semanas
em Mbanza Congo regressei a Luanda, para no dia seguinte partir para conhecer
um local de peregrinação “Mamã Muxima”, um lugar lindo, que dá paz, serenidade,
onde a oração para mim faz muito sentido e a procura do que Deus quer para mim
é pensado e repensado na busca incessante de perceber se o que eu quero é ou
não o mesmo que Deus quer e onde me leva toda esta surdez que possuo, grita-me
Senhor estou surda! Quero apenas sentir que realizo o projeto do dom da vida,
que para mim é apenas ser feliz.
Que
o agradecimento seja considerado por todas as pessoas que fazem parte da minha
vida e desta minha experiência, em cada palavra que escrevi, em cada gesto que
fiz, em toda a minha presença, porque simplesmente não tenho como agradecer por
tudo, apenas posso dizer obrigado.
Lúcia Reis Guerreiro
Em Angola de 30 de Julho a 31 de Agosto de 2012